sábado, 19 de março de 2011

O amor é falta ou plenitude?

O amor é falta ou plenitude?

“Roland Barthes já observava: o amor é um assunto mais obsceno, para nossos contemporâneos,do que o sexo. Mais incômodo. Mais íntimo. Mais diíficil de dizer, de mostrar, de pensar. Digamos que a sexualidade tornou-se uma espécie de regra, à qual não há como não se submeter. O amor seria antes uma exceção. A sexualidade faz parte de nossa saúde. O amor seria antes uma doença, em todo caso um distúrbio. A sexualidade é uma força. O amor seria antes uma fraqueza , uma fragilidade, uma ferida. A sexualidade é uma evidência; o amor,um problema ou um mistério. Pode-se duvidar, inclusive , de sua existência ou, no mínimo, de sua verdade: e se fosse apenas um sonho, uma ilusão,uma mentira? Se por toda parte existisse apenas o sexo e o egoísmo? Se o amor só existisse, como já sugerida La Rochefoucauld , na medida em que falássemos dele?

(…)Amar é poder desfrutar ou regozijar-se de algo ou de alguém. É portanto também poder sofrer, já que prazer e alegria dependem aqui, por definição, de um objeto exterior, que pode estar presente ou ausente, dar-se ou recusar-se… “Em relação a um objeto que não é amado, escreve Espinosa, nenhuma querela nascerá; não sentiremos tristeza se vier a perecer, nem ciúmes se cair em mãos de outro, nem temor, nem ódio, nem perturbação da alma…” Estamos longe disso, e basta dizer que o amor nos prende como a ele nos prendemos. Se nada amássemos, nem nós mesmos, nossa vida seria mais tranqüila do que é. Mas é que também já estaríamos mortos."

Autoria: André Comte-Sponville (Trecho)

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